CEF. Vício de construção do imóvel. Legitimidade ad causam, por Luiz Dellore

A CEF não responde por vício na execução da obra cometido por construtora escolhida pelo mutuário para erguer imóvel dele, nem por vício existente em imóvel pronto voluntariamente adquirido pelo mutuário. A mera circunstância de o contrato de financiamento ser celebrado durante a construção ou no mesmo instrumento do contrato de compra e venda firmado com o vendedor não implica a responsabilidade do agente financeiro pela solidez e perfeição da obra. Isso porque não se cuida de cadeia de fornecedores a ensejar solidariedade, uma vez que as obrigações de construir e de fornecer os recursos para a obra são substancialmente distintas, guardam autonomia, sendo sujeitas a disciplina legal e contratual própria. A instituição financeira só tem responsabilidade pelo cumprimento das obrigações que assume com o mutuário referentes ao cumprimento do contrato de financiamento, ou seja, a liberação do empréstimo nas épocas e condições acordadas, tendo por contrapartida a cobrança dos encargos também estipulados no contrato. Com efeito, figurando ela apenas como financiadora, em sentido estrito, não tem responsabilidade sobre a perfeição do trabalho realizado pela construtora escolhida pelo mutuário, não responde pela exatidão dos cálculos e projetos nem, muito menos, pela execução dos serviços desenvolvidos por profissionais não contratados nem remunerados pelo agente financeiro. Ademais, a previsão contratual e regulamentar de fiscalização da obra pela CEF é no sentido de que o empréstimo seja utilizado para os fins descritos no contrato de financiamento, cujo imóvel lhe é dado em garantia hipotecária. Se constatar a existência de fraude, ou seja, que os recursos não estão sendo integralmente empregados na obra, poderá rescindir o contrato de financiamento. Assim, em relação à construtora, a CEF tem o direito e não o dever de fiscalizar. Dessa forma, figurando como mero agente financeiro em sentido estrito, a CEF não possui legitimidade passiva ad causam para responder por eventual defeito de construção da obra financiada. REsp 897.045-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 9/10/2012.
Com a estabilização da economia, o Brasil passou por um sensível aumento na concessão do crédito imobiliário.
O banco, ao financiar um imóvel, é parte legítima passiva para figurar em demanda na qual se discutam vícios construtivos nesse imóvel?
O STJ fez uma distinção em relação  às obrigações assumidas pelo banco.
Isto é, dependendo do tipo de operação imobiliária, pode atuar como:
(a)   agente financeiro em sentido estrito, em que somente há o fornecimento dos recursos ou;
(b)    como agente financeiro operador, em que se envolve na produção do empreendimento imobiliário.
A partir dessa distinção, o STJ assim entendeu, em julgado constante do informativo 506.
Cabe destacar que a decisão se refere à legitimidade e não à responsabilidade. Ademais, o tema não é discutido à luz da teoria da asserção.

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