A
discussão que tem pautado os grandes meios de comunicação no momento é a
crítica feita pelo presidente do STF à relação de amizade dos advogados
com magistrados.
Eu me formei em
1988, para me formar frequentei uma faculdade durante 5 anos, e durante
todo esse período conheci centenas e centenas de pessoas, todas com um
interesse em comum – o direito.
Da faculdade íamos a
bares tomar cerveja, conversávamos sobre a vida, cada qual buscou
estágio em um canto, do estágio tive contato com outros estudantes de
outras faculdades, isso sem falar das festas, jogos jurídicos, e das
prisões para qual éramos conduzidos ano após ano depois do tradicional
pendura.
Vez por outra
frequentávamos as festas nas outras faculdades, como exemplo as
tradicionais festas que ocorriam na São Francisco nas quais íamos “de
bico”. Lá também fizemos muitos amigos, chegamos a frequentar as
peruadas. Me lembro de organizarmos viagens para a tradicional
ocktoberfest, íamos de ônibus, dezenas de pessoas, todos estudantes, a
maioria com dinheiro contado.
Depois da ressaca
da formatura cada qual tomou seu rumo, uns foram prestar concurso,
tinham como dom a imparcialidade, se tornaram magistrados, outros
buscaram o Ministério Público, alguns seguiram a carreira de delegado de
Policia e alguns, como eu, resolveram seguir na advocacia. Acabei me
escrevendo no mestrado da Puc, ali conheci muitos outros alunos:
professores, promotores, juízes.
De lá passei a
frequentar o IBCCrim e de tanto frequentar ocupei a presidência e outras
tantas amizades foram sendo feitas pelo caminho. Ainda me aventurei em
fazer mestrado no exterior e conheci brasileiros de todos os cantos que
dividiam comigo experiências, livros, trabalhos em grupo e
compartilhamos a solidão de estarmos fora de casa. Novas amizades, novos
relacionamentos. Enfim, isso é viver, fazer amigos, compartilhar
experiências.
Agora me deparo com
o questionamento sobre amizade entre advogados e juízes e fico aqui
pensando que não há nada mais natural! Foi com essas pessoas que convivi
durante grande parte de minha vida, como imaginar que a manutenção
dessas amizades pode ser vista como algo negativo, criticável,
indesejável.
Devemos nos separar
nesse momento? Não nos frequentarmos mais, romper laços de amizades
antigos por estarmos em carreiras distintas? Devemos evitar os juízes e
por eles sermos evitados, e o mesmo se aplica aos delegados e
promotores? Obvio que não. Vivemos no mesmo meio, compartilhamos ao fim
dos mesmos ideais, buscamos todos uma sociedade mais justa, mais
equilibrada, mais honesta e pacifica.
Claro que cada qual
tem uma visão do mundo, claro que tanto os advogados como os promotores
(procuradores) são parciais, a visão é antagônica. Por obvio o
magistrado é imparcial e sua visão tende a ser mais equilibrada. Claro
que os delegados carregam o peso da criminalidade diretamente sobre seus
ombros. Enfim, cada profissão traz nos diversos profissionais uma visão
diferente de ver o mundo. Aqui não se trata de certo ou errado, apenas
de formas diferentes e o convívio entre todos só acrescenta na vida de
cada um. Nada mais medíocre do que a convivência fechada e pequena entre
seus pares, entre seus grupos.
A questão parece-me
mal colocada, generalizada e equivocada. A justiça ganha com essa troca
de informações, as pessoas individualmente ganham com o convívio entre
desiguais, a sociedade ganha porque isso é democrático.
Errado é tirar proveito
das amizades, ser beneficiado em detrimento a outros, buscar soluções
que não ocorreriam se não houvesse essa relação. Errado, portanto não é
manter amigos, mas sim utilizar-se deles. Mas quem assim age no fundo
amigo não é!
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