Uma
das regras de ouro do marketing empresarial é: agrade o seu cliente. O
cliente feliz é um agente multiplicador de negócios. O cliente
satisfeito retorna. É sempre uma receita infalível para a criação de um
ciclo virtuoso que culmina com o sucesso de qualquer empreendedor.
O problema é que,
na educação superior, o cliente é o aluno. E a alegria do aluno, por
sua vez, é ser aprovado. Nos cursos jurídicos, o aluno chega buscando
vencer uma etapa que se interpõe entre ele e a sonhada vaga ofertada nos
concursos públicos. Frequentemente não se quer a formação jurídica, mas
sim o título de bacharel.
Para agradar à
freguesia, sempre ansiosa, as faculdades vão se transformando em grandes
entrepostos de treinamento para concursos públicos. Vão
horizontalizando o conteúdo, vão remodelando o formato das avaliações,
vão afrouxando o rigor dos exames e aprovando uma legião de clientes que
pensam poder sempre postergar a apreensão do conteúdo, deixando-a para
depois da formatura. Instala-se a ditadura do alunado, clientela que
sempre teima em apupar os mestres na convivência do ensino superior.
A reboque de tal
estado de coisas, vem a proletarização dos docentes, aviltados pela
remuneração cuja média é de pouco mais de duas dezenas de reais por cada
hora em sala de aula. É inequívoco que a superficialidade no trato das
matérias dispensa uma maior qualificação do professor. Agora, basta
atender aos requisitos objetivos de titulação impostos pelos órgãos
educacionais. A mediocridade em ambos os pólos da relação educacional
passa a ser tolerada. Professores incompetentes e discentes inaptos se
ajuntam numa convivência academicamente estéril.
Tal modelo de
gestão da educação superior vem paulatinamente relegando a um segundo
plano o conhecimento, a capacidade de pensar o direito enquanto ciência,
imprescindível em qualquer carreira jurídica séria. Hoje, prestigia-se a
memorização de artigos de leis, das posições dominantes dos tribunais
superiores e das elaboradas técnicas de marcação de "xis". A qualidade
dos profissionais formados, mesmos os melhores clientes (digo, alunos), é
nivelada por baixo.
Um problema
crítico do ensino superior privado é a aprovação sem critérios, onde
campeia a mais completa frouxidão nas avaliações, estratégia de
conveniência lançada pelas instituições pouco acreditadas para evitar a
insatisfação do corpo discente, com a consequente evasão que sempre
reflete negativamente no balanço empresarial.
É passada a hora
de atentar para o problema. Urge o reforço da fiscalização dos conteúdos
ministrados e da respectiva apreensão pelo alunado. O que se ensina e o
quanto é realmente apreendido deve ser rigorosamente verificado pelos
órgãos responsáveis.
Só a pressão
financeira ensejada pela imputação de responsabilidade civil às
faculdades pelos índices pífios de aprovação no exame de ordem,
denunciador de uma insuficiência acadêmica, permitirá a reversão do
nefasto cenário.
Do contrário, seguiremos a apressada marcha em direção a um destino inexorável: sermos uma nação de rábulas.
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